Foto Hélder Gonçalves |
Pedro Lontra - "O Louco"
"Aqueles olhosd’estrelastanto lhe contavam do Paísdas Fadas, de anjos Boémios, bailarinasde papel eseda, livrosmágicosque seu coração molhava-se inteiramente em lágrimas porcausado Pedro Lontra-Senhor feudal dalixeira da esquina, no fim da rua...
Bem capaz,que foi esse o começo das suasaventurasno monturo dosarrabaldes.
Era um mundo gigantescode cheiros...Movimentos, cores e segredosonde brilhavaaplacainexistente do perigo.
Moscaszumbiam e o mormaço subiatremeluzindouma dança mamelucae suas lentescor de rosaviam, cheiravame sentiam... Purapoesia!
Murmuravam osantigos,àmeianoiteentre o cafépiladoe o
fumo de cordamascadoque o juízo dele, do Pedro, asua inteligência, com invejaolevou.
Elaouvindo tudo aquilo,guardavano maisprofundo do seu infantil ser, o segredo quesó o Pedro e Elasabiam:
Pedro Lontra, o Louco...
Mago d’artes mudase invisíveise ela eraasuapequenina
aprendiza.
Passou a eternidade dotempo, com ele, o fogão de pedras, o
pátio de terravermelha,as floresd’algodão...
Nelabrilham ainda osmesmosolhosdo Pedro Lontra e, ao longe, quando em vezouviaumamãemurmurar a um miúdo qualquer:
-Foge! Ela arranca-te os sonhos edevora-te a liberdade!
Ah!
Pedro Mestre Mago d’artes mudase invisíveis...
Legado perpetuado naeraonde aignorânciaé reconhecidae aclamada como a GrandeRainhadasletrasem plumas.
O canudo de cedro dos pensantes, ondePlatão geme utopias e Camõesanalfabeticamente soletra chinêsem verbose versos erráticosde conceitos aforistas.
AnosdepoisElaveio,asaber, que o Pedro era SenhorDoutor, formado em Clinicagerale poeta. Entre
um lado eoutro, foi a eleimposta guerraentrearazão e aemoção.
E eleno limbo detal guerra, apenaspostou-se demero espectador. Actualmentedar-lhe-iam- lheo titulo de Esquizofrénico
Maníaco depressivo, nívelmáximo. De facto e pensando bem era
o que para todos era, ou melhor –Também, assim, afirmariam porela. Mas, aprendeu ausar maquilagem e tacões, rir feita umahiena e fazer aresde completaatenção, ao que realmentenão tem valor. E, por enquanto, aindaassinavaseu próprio nome.
Lembrava-seque caçoavam de Pedro Lontra,o tal"semjuizo"que
traziana peleum rosto envergando verniz desofrimentos mudosem riscos grotescos de históriasjamaiscontadas mas, os olhos...
Osolhosdo Pedro o loucono Paísdo Carnaval pululando
preguiçainerte,naTerra DeTodosOsSantos, brilhavam em sua direcção tal qual lumes incendiadosde margaridasmulticores. Sorriam-lhe, dentesalvos, reluzindo umatristezad’ovelhaórfã. Afligia-lheasuaama gritando-lhe
- foge! Que oPedroarranca-teas tranças! Devora-te ocoração! "
Do livro "O Ballet dos Camelos"
Autora Ronilda David/loubah Sofia